terça-feira, 13 de novembro de 2012

O Ciclista estreia esta semana no Chapitô



Hoje são os bons velhos tempos de amanhã.
Karl Valentin 


O Chapitô recebe já esta semana a peça O Ciclista, uma produção do Teatro da Terra, com encenação de Maria João Luís - que interpreta a personagem o Ciclista. A partir de textos de Karl Valentin, autor maior da dramaturgia alemã, não percam este belíssimo espectáculo, cheio de humor e sátira social, em cena de 16 a 25 de Novembro, às 22h, na Tenda do Chapitô.

 
O Teatro da Terra escreve sobre o projecto:

Valentin, artista dos sete ofícios: cria, fotografa, representa, filma, escreve, enquanto a sua Alemanha atravessa duas guerras mundiais, sempre atento às dificuldades que um país em guerra impõe e sem se conformar com a tendência que a propaganda nazi alinhava com a superioridade da raça ariana, foi por isso censurado e esquecido. Só a partir dos anos 70, com traduções francesas, é redescoberto e reconhecido como um dos maiores autores cómicos de sempre.
Da vasta obra de Karl Valentin seleccionámos para este espectáculo os seguintes textos:
O Projector Avariado; Não; A Carta de Amor; A Loja dos Artigos Fotográficos; O Aquário; No Chapeleiro; Na Farmácia; Uma Mulher que não sabe o que quer; O Ciclista; A Ida ao Teatro; A Liga das Amigas dos Gatos.
A Encenação encadeia esta sucessão de sketchs com uma linha harmonizadora de pessoas a circular em pasteleiras e bicicletas da primeira metade do século XX, criando uma dinâmica fluente, onde cada cena se poderia passar em uma qualquer rua de uma qualquer cidade ou aldeia, de um qualquer país. A linha cronológica das cenas é também arbitrária possibilitando uma identificação carinhosa e imediata do espectador com as personagens.
O Teatro da Terra leva à cena o seu humor corrosivo e irreverente, para que não caia novamente no esquecimento, este talento gigante, muitas vezes apelidado como o Charles Chaplin dos dadaístas de Munique.



A CARTA DE AMOR, Karl Valentin

“Munique, 33 de Janeiro de 1925
Meu querido adorado,
É com a mão em lágrimas que pego na caneta com a mão para te escrever.
Já não me escreves há tanto tempo. Porquê? Se ainda há pouco tempo me dizias numa carta que me escrevias tu, se eu não te escrevesse. O meu pai também me escreveu ontem. Diz que te escreveu. Em contrapartida, nem uma palavrinha tu me escreveste, a dizer que ele te tinha escrito. Se me tivesses escrito a dizer que o meu pai te tinha escrito, eu assim tinha escrito ao meu pai que tu lhe querias escrever mas que infelizmente não tinhas tido tempo para escrever, sem o que já lhe tinhas escrito.
Não escreveste carta nenhuma de resposta às que eu te escrevi, o que faz com que sejam muito tristes todas estas histórias de escrita.
Se não soubesses escrever, era diferente, eu nunca te escrevia, mas tu sabes escrever e não me escreves sequer quando eu te escrevo.
Termino esta carta escrevendo-te que espero que finalmente me escrevas. Senão, é a última carta que te escrevo. Se mais uma vez acontecer que não me escrevas, escreve-me ao menos a dizer que não me queres escrever. Assim fico a saber porque é que tu nunca me escreveste.
Perdoa, estou com tão má escrita, mas tenho sempre cãibras nas mãos quando te escrevo. Tu nunca as terás, já se sabe, tu nunca escreves.
Mando-te saudades e dou-te um beijinho. 

A tua Isabel”


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