sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Pelo Mundo... pela Imprensa

OS PALHAÇOS

Resposta à crónica Juízo final do sociólogo Alberto Gonçalves publicada na revista Sábado de 14 de Maio 2009.

Alberto Gonçalves (AG) escreveu uma crónica na revista Sábado, a propósito de um projecto de lei do Bloco de Esquerda (BE) contra a crueldade com os animais no Circo. Esse sociólogo também se opõe a tais mal tratos, posição que esclarece em duas penadas. No restante texto, denigre o Circo, insulta o Chapitô, ataca o BE e até os habitantes do Bairro da Bela Vista que serão, segundo as suas palavras, criminosos que “arrecadaram milhões em roubos violentos”. Pessoas que, segundo diz, são opressores que deveriam viver nas gaiolas dos animais do circo. Animais em jaulas, não. Pessoas, sim.

Enfim, que pensar de alguém que pega num projecto de um partido com o qual concorda para disparar para todos os lados? Mas AG acha que oportunista é o Bloco que só avança com essa proposta porque tem de apresentar algo “ fracturante por semana”. Só não se percebe como é que AG acha que defender os direitos dos animais é uma causa fracturante se, afinal, ele mesmo entende que são “miseráveis as condições a que os animais são sujeitos”.

Parece que o cronista terá sido levado ao Circo algumas vezes durante a sua infância, experiência que descreve como a mais triste da sua vida. Está visto que AG foi um privilegiado e que a pior experiência a que assistiu foi “a manha dos ilusionistas, a precisão dos atiradores de facas, a loucura dos engolidores de fogo”, para empregar as suas próprias palavras. De certeza que muitos habitantes do Bairro da Bela Vista assistiram a coisas bem mais tristes. Adiante. AG nunca superou esse gravíssimo trauma da sua longa infância. Tanto que declara: “Chocam-me igualmente as figuras a que se prestam os integrantes do Chapitô”. Interessante. O cronista choca-se com o artista de circo e com as condições a que são sujeitos os bichos. Pena é não se chocar com as condições de quem nasceu e cresceu em bairros degradados. Nem com a ignorância.

O Chapitô ensina e pratica, desenvolve e apresenta, na sua “casa de cultura”, essa arte milenar que é o Circo. Trata-se de explorar a estética e a técnica, constituindo a identidade através do risco, do limite, da plasticidade interpretativa do corpo coreografado, encenado, performatizado… E assim, no Chapitô trabalha-se, dia e noite, para desencadear nos jovens e nos não-jovens, nas crianças e nos artistas da cena ou do “site specific” o confronto e a intersecção das inteligências e das sensibilidades.

Mas o Chapitô não é apenas um “chapiteau”. É um serviço público social de formação e de cultura; é uma Equipa de Animação nos Centros Educativos da Bela Vista e Navarro de Paiva; é uma Escola (a tempo inteiro) que torna curricular o trabalho clownesco nos Hospitais, nos Bairros Sociais, em Serralves, na Casa da Música, em iniciativas regionais, ou europeias…E que acumula quase 30 anos de experiência sobre reinserção social pela arte.

É fácil pegar na pena e desatar a cuspir fogo ou a atirar facas contra os habitantes dos bairros desfavorecidos e alienados, contra o Circo tradicional e a arte circense actual. É simples fazer sociologia de bolso e falar de cor. Difícil é estar no terreno, viver o desequilíbrio e o equilíbrio de todos esses trapézios e cordas bambas. Algo de que AG, que afirma escrever a sua prosa “num quarto de hotel a cinco mil quilómetros de distância, a olhar o País no computador”, parece estar completamente arredado.

Agradecimento a Joana Amaral Dias

1 comentário:

Pedro Sena disse...

Depois disso tudo eu faço uma pergunta, e qual é a posição do Chapitô em relação aos animais selvagens em circos concorda ou não concorda.